Estava eu pensando no que dar de Natal para o Tadeu. Minha imaginação para presentes já estava esgotada por conta do seu aniversário em novembro. Ele por sua vez, por motivos óbvios não poderia me presentear. Então resolvemos nos dar um mimo que só chegará na primeira semana de janeiro...
Então parecia tudo perdido na noite de Natal... sem presente, sem ceia, sem festa... Mas de última hora resolvi ir comprar um presente para substituir o que ainda está para chegar.
Mas sabe, o Papai Noel costuma ser muito generoso e se encarregou de presentear o Tadeu com algo espetacular, algo brilhante, algo que fez compensar o fato dele passar o Natal internado... Ele ganhará uma medula óssea.
Ele passou o Natal longe de casa, longe da família, da namorada, da festa, mas irá realizar algo que espera desde que descobriu o linfoma: o transplante de medula óssea. Algo que trará mudanças, não sabemos se boas ou ruins. Por enquanto a nossa única percepção viável é a surpresa, tão somente a surpresa...
Ele está se achando a última bolacha do pacote, me arrisco a imaginar que ele irá me ligar dizendo: “Eu vou ganhar uma medula, você não vai...”
É não vou, tão pouco irei ganhar um presente dele, mas em contra partida irei ganhar algo mais valioso do que ele. Irei ganhar ele VIVO, que é o que importa e o que me basta. Como conseqüência disso, ficarei feliz, muito feliz
Parece que tudo o que está acontecendo, está acontecendo pela metade, metade da felicidade está fora do hospital, a outra metade está dentro, metade do presente agora, metade depois, metade da vida com 24 anos, a outra metade com 20, metade das nossas vidas passando diante dos olhos, a outra metade esquecida com o tempo. Metade de um ano com muito medo e muita incerteza, a outra metade com muita coragem, mas ainda com muita incerteza... metade, metade, metade, mas para quem não tem nada metade é o dobro, já dizia alguém que eu não lembro quem...
Já estou um pouco cansada de ouvir todo mundo me dizer: “Ah mais depois vocês fazem isso ou aquilo...” Apesar de aceitar o que dizem, caio no pensamento de que pode não haver depois. Nunca gostei de viver de depois, e não será agora que irei gostar. Gosto de viver o agora, o presente, o presente do presente, como diz a Rosário.
Gosto de ter conquistas, glórias, vitórias AGORA, não DEPOIS, não gosto muito do risco que tenho que me expor para ter minhas vitórias e glórias conquistadas.
Muitas coisas que eu quero agora eu não posso ter... Soa frustrante, e é na verdade. Como canta Chico Buarque no seu Deus dará, pois é não gosto de deixar a Deus dará, não gosto de não ter controle e não gosto das surpresas, não gosto de ficar esperando no que vai dar, porque se Deus não dar, como é que vai ficar? não é Chico?
Estou falando meio assim distante, dando voltas, fazendo rodeios, só pra não dizer claramente que estou com medo, medo do que vai vir pela frente. Sou uma medrosa de plantão, mas como eu sempre digo: O medo é uma estratégia inteligente e eficiente de todo e bom corajoso...
E coragem não é ausência do medo, é seguir em frente mesmo com o coração na mão e as pernas bambeando.
Bom, mas os riscos do transplante irão valer a pena. Riscos são um atrativo para quem gosta de desafios e esse é um desafio grandioso, pois iremos conquistar a vitória, mesmo nos expondo a derrota... Assim eu espero.
Comecei um texto que até então estava sendo natalino e pretendia terminá-lo dando meus votos de felicidade a vocês, mas divaguei com o pensamento, cai nas minhas próprias contradições e terminei num dramalhão que só.
Um Feliz Natal a todos vocês que acompanham essa árdua guerra contra uma doença tão injusta, mas como diz o Tadeu: “A vida não é justa, mas ainda assim é boa...”
Ontem falei com a Carin, e bom, disse um monte de coisas, mas estarei aqui sempre torcendo pelo sucesso do transplante dela também.
=* beijo.
Atualizando: às 11:16 ele me enviou uma mensagem dizendo: “Estou recebendo a medula \O/”
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